
Igreja Católica
- A Igreja Católica
- Eclesiologia
- Além disso, a Igreja, de entre os seus inúmeros nomes, também é conhecida por:
- Jesus, a Salvação e o Reino de Deus
- Sacramentos
- Baptismo
- Confissão
- Eucaristia
- Na Confirmação ou Crisma
- Sagrado matrimónio
- As Ordens Sagradas
- Extrema unção
- Estrutura e Cargos
- Culto e prece
- Liturgia
- História da Igreja Católica
- Origem da Igreja
- Perseguição e crescimento
- Padres da Igreja
- Novos Horizontes
- O Grande Cisma
- Apogeu medieval
- Crise e cisma do Ocidente
- A transição, Constantinopla e a América
- A Reforma Protestante
- A Reforma Católica
- A ascensão francesa
- Do Regalismo à Restauração
- O Século "Das Coisas Novas
- Os primórdios do Século XX
- A Segunda Guerra e o pós-Guerra
- Músicas Católicas
- Parábola - Parábolas
- Parábola do Semeador
- Pentecostes Significado
- Monge
- Celibato
- Freira
- Frases de Reflexão
- Frases Sobre a Vida
- Poesias de Amor
A Igreja Católica, chamada também de Igreja
Católica Romana e Igreja Católica Apostólica
Romana, é a Igreja Cristã fundada por Jesus Cristo com
aproximadamente dois mil anos, colocada sob a autoridade suprema do Papa,
Bispo de Roma e sucessor do apóstolo Pedro. Seu objectivo é
a conversão ao ensinamento e à pessoa de Jesus Cristo em
vista do Reino de Deus. Para este fim, ela administra os sacramentos e
prega o Evangelho de Jesus Cristo.
Segundo o Catecismo [atribuído
à] São Pio X, a doutrina católica "é
a doutrina que Jesus Cristo Nosso Senhor nos ensinou, para nos
mostrar o caminho da salvação" e da vida eterna.
"As partes principais e mais necessárias da Doutrina
[...] são quatro: o Credo, o Pai-Nosso, os Mandamentos e os
Sacramentos".
A Igreja Católica acredita que
todas as coisas que ela acredita foram sendo gradualmente reveladas
por Deus através dos tempos (nomeadamente ao longo do Antigo
Testamento), atingindo a sua plenitude e perfeição em
Jesus Cristo (que anunciou definitivamente o Evangelho à
humanidade), que é considerado pelos Católicos
(Cristãos) como o Filho de Deus, o Messias e o Salvador do mundo
e da humanidade.
Eclesiologia
A Igreja Católica define-se pelas palavras do Credo Niceno-Constantinopolitano, como:
«una» porque nela subsiste a única instituição verdadeiramente fundada e encabeçada por Cristo para reunir o povo de Deus, porque ela tem como alma o Espírito Santo, que une todos os fiéis na comunhão em Cristo e porque ela tem uma só fé, uma só vida sacramental, uma única sucessão apostólica, uma comum esperança e a mesma caridade.
«santa» por causa da sua ligação única com Deus, o seu Autor, porque "o Espírito Santo vivificou-a com a caridade" e porque ela é a "Esposa de Cristo"; também porque ela, através dos sacramentos, tem por objectivo santificar, purificar e transformar os fiéis, reunindo-os todos para o seu caminho de santificação, cujo objectivo final é a salvação, que consiste na vida eterna, na realização final do Reino de Deus e na obtenção da santidade.
«católica» porque a Igreja é universal e está espalhada por toda a Terra; é portadora da integralidade e totalidade do depósito da fé; "leva e administra a plenitude dos meios" necessários para a salvação" (incluindo os sete sacramentos), dados por Jesus à sua Igreja; "é enviada em missão a todos os povos, em todos os tempos e qualquer que seja a cultura a que eles pertençam"; e nela está presente Cristo.
«apostólica» porque ela é fundamentada na doutrina dos Apóstolos cuja missão recebeu sem ruptura. Segundo a Doutrina Católica, todos os Bispos da Igreja são sucessores dos Apóstolos e o Papa, Chefe da Igreja, é o sucessor de São Pedro ("Príncipe dos Apóstolos"), que é a pedra na qual Cristo edificou a sua Igreja.
Além disso, a Igreja, de entre os seus inúmeros nomes, também é conhecida por:
"Corpo de Cristo" porque os católicos acreditam que a Igreja não é apenas uma simples instituição, mas um corpo místico constituído por Jesus, que é a Cabeça, e pelos fiéis, que são membros deste corpo único, inquebrável e divino. Este nome é assente também na fé de que os fiéis são unidos intimamente a Cristo, por meio do Espírito Santo, sobretudo no sacramento da Eucaristia.
"Esposa de Cristo" porque o próprio Cristo "Se definiu como o «Esposo» (Mc 2,19) que amou a Igreja, unindo-a a Si por uma Aliança eterna. Ele entregou-se a Si mesmo por ela, para a purificar com o Seu sangue, «para a tornar santa» (Ef 5,26) e fazer dela mãe fecunda de todos os filhos de Deus".
"Templo do Espírito Santo" porque o Espírito Santo reside na Igreja, no Corpo Místico de Cristo, e estabelece entre os fiéis e Jesus Cristo uma comunhão íntima, tornando-os unidos num só Corpo. Para além disso, Ele guia, toma conta e "edifica a Igreja na caridade com a Palavra de Deus, os sacramentos, as virtudes e os carismas".
Jesus, a Salvação e o Reino de Deus
Jesus
Cristo é a figura central do Cristianismo, porque, por vontade
de Deus Pai, ele encarnou-se (veio à Terra) para anunciar a
salvação à humanidade inteira, "ou seja:
para nos reconciliar a nós pecadores com Deus; para nos fazer
conhecer o seu amor infinito; para ser o nosso modelo de santidade;
para nos tornar «participantes da natureza divina» (2 Ped
1, 4)"; e para "anunciar as boas novas do Reino de Deus".
Santo Atanásio, um famoso Padre e Doutor da Igreja, afirmou
que Jesus, "o Filho de Deus, Se fez homem, para nos fazer Deus",
ou seja, para nos tornarmos santos como Deus.
O dogma
cristológico ensina que Jesus é a encarnação
do Verbo divino, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Messias,
Salvador e Bom Pastor da Humanidade. Ele é também «o
Filho Unigénito de Deus» (1 Jo 2, 23), a segunda Pessoa
da Santíssima Trindade, o único e verdadeiro Sumo
Sacerdote e Mediador entre os homens e Deus Pai, chegando mesmo a
afirmar que "«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.
Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 6)".
Nas suas muitas pregações, Jesus, ao anunciar o
Evangelho, ensinou as bem-aventuranças e insistiu sempre «que
o Reino de Deus está próximo» (Mt 10,7). Exortou
também que quem quisesse fazer parte desse Reino teria de
nascer de novo, de se arrepender dos seus pecados, de se converter e
purificar. Jesus ensinava também que o poder, a graça e
a misericórdia de Deus era maior que o pecado e todas as
forças do mal, insistindo por isso que o arrependimento
sincero dos pecados e a fé em Deus podem salvar os homens.
Este misterioso Reino, que só se irá realizar-se na sua
plenitude no fim do mundo, está já presente na Terra
através da Igreja, que é a sua semente. No Reino de
Deus, o Mal será inexistente e os homens salvos e justos, após
a ressurreição dos mortos e o fim do mundo, passarão
a viver eternamente em Deus, com Deus e junto de Deus.
A
doutrina católica professa também que a salvação
do Homem deve-se, para além da graça divina, ao
voluntário Sacrifício e Paixão de Jesus na cruz.
Este supremo sacrifício deve-se à vontade e ao infinito
amor de Deus, que quis salvar toda a humanidade. Além disso, é
também fundamental para a salvação a adesão
livre do crente à fé em Jesus Cristo e aos Seus
ensinamentos, porque a liberdade humana, como um dom divino, é
respeitado por Deus, o nosso Criador.
Esta fé cristã
"opera pela caridade" ou amor (Gal 5,6), por isso ela
obriga o crente a converter-se e a levar uma vida de santificação.
Este modo de viver obriga o católico a participar e receber os
sacramentos e a "conhecer e fazer a vontade de Deus". Este
último ponto é cumprido através, como por
exemplo, da prática dos ensinamentos revelados (que se resumem
nos mandamentos de amor ensinados por Jesus), das boas obras e também
das regras de vida propostas pela Igreja Católica. Estes
mandamentos de amor consistem em amar a Deus acima de todas as coisas
(Mt 22,37), amar ao próximo como a si mesmo (Mt 22,39) e amar
uns aos outros como Eu vos amei (Jo 15,10). Estes ensinamentos
radicais constituem por isso o resumo de "toda a Lei e os
Profetas" do Antigo Testamento (Mt 22,40). No fundo, a vida de
santificação proposta pela Igreja tem por finalidade e
esperança últimas à salvação e à
implementação do Reino de Deus.
Sacramentos
Dentro da fé católica, os sacramentos,
que a Igreja acredita serem instituídas por Jesus, são
gestos e palavras de Cristo que concedem e comunicam a graça
santificadora sobre quem os recebe. Sobre os sacramentos, São
Leão Magno diz: "«o que era visível no nosso
Salvador passou para os seus sacramentos»".
Ao
celebrá-los, a Igreja Católica alimenta, exprime e
fortifica a sua fé, sendo por isso os sacramentos uma parte
integrante e inalienável da vida de cada católico e
fundamentais para a sua salvação. Isto porque eles
conferem ao crente a graça divina, os dons do Espírito
Santo, "o perdão dos pecados, [...] a conformação
a Cristo Senhor e a pertença à Igreja", que o
torna capaz "de viver a vida nova de filhos de Deus em Cristo
acolhido com a fé". Daí a grande importância
dos sacramentos na liturgia católica. Ao todo, a Igreja
Católica tem sete sacramentos:
Baptismo é dado às criança e a convertidos adultos que não tenham sido antes baptizados validamente (o baptismo da maior parte das igrejas heréticas "cristãs" é considerado válido pela Igreja Católica, contanto que seja feito pela fórmulta: "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". A rigor, todo pessoa pode, nessa fórmula, batizar validamente alguém, nomeadamente em situações urgentes, uma vez que o batismo é necessário para a salvação).
Confissão, Penitência ou Reconciliação envolve a admissão de pecados perante um padre e o recebimento de penitências (tarefas a desempenhar a fim de alcançar a absolvição ou o perdão de Deus).
Eucaristia (Comunhão) é o sacramento mais importante da Igreja porque ela relembra e renova o mistério pascal de Cristo, actualizando e renovando assim a salvação da humanidade. Por isso, recebe também o nome de Santíssimo Sacramento. Este sacramento está associado também à transubstanciação, que é a crença de que, após a consagração, o pão e o vinho oferecidos e consagrados se tornam realmente o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, sob as aparências de pão e vinho.
Na Confirmação ou Crisma, o Espírito Santo, que é recebido no baptismo é "fortalecido e aprofundado" através da imposição de mãos e da unção com santo óleo do Crisma. Na maior parte das igrejas de Rito latino, este sacramento é presidido por um bispo e tem lugar no início da idade adulta (na maioria das vezes, quando se completam 15 anos). Nas Igrejas Católicas Orientais o sacramento do Crisma é geralmente executado por um padre imediatamente depois do baptismo.
Sagrado matrimónio é o sacramento que valida, diante de Deus, a união de um homem e uma mulher, constituindo assim uma família. Segundo a tradição católica, com base no Evangelho de São Marcos, o casamento é indissolúvel. Só é permitido um segundo casamento no caso da morte de um dos cônjuges ou em situações especias de nulidade do casamento.
As Ordens Sagradas recebem-se ao entrar para o clero, através da consagração das mãos com o santo óleo do Crisma e, no envolvem um voto de castidade. O sacramento das Ordens Sagradas é dado em três graus: o do diácono, o de sacerdote e o de bispo.
Extrema unção. Envolve a unção de um doente com um óleo sagrado dos enfermos, abençoado especificamente para esse fim, e o viático para a hora da morte.
A Igreja Católica tem uma estrutura altamente
hierarquizada, sendo o seu Chefe o Papa. A expressão "Santa
Sé" significa o conjunto do Papa e dos dicastérios
da Cúria Romana, que o ajudam no governo de toda a Igreja.
A
Igreja tem uma estrutura hierárquica de títulos que
são, em ordem descendente:
Papa, que é o Sumo Pontífice e chefe da Igreja Católica, o guardador da integridade e totalidade do depósito da fé, o Vigário de Cristo na Terra, o Bispo de Roma e o possuidor do Pastoreio de todos os cristãos, concedido por Jesus Cristo a São Pedro e, consequentemente, a todos os Papas. Esta autoridade papal (Jurisdição Universal) vem da fé de que ele é o sucessor directo do Apóstolo São Pedro. Na Igreja latina e em algumas das orientais, só o Papa pode designar os membros da Hierarquia da Igreja acima do nível de presbítero. Aos Papas atribui-se infalibilidade, definido no Concílio Vaticano I, em 1870. Por essa prerrogativa, as decisões papais em questões de fé e costumes (moral) são infalíveis. Todos os membros da hierarquia respondem perante o Papa e a sua corte papal, chamada de Cúria Romana.
Cardeais são os conselheiros e os colaboradores mais íntimos do Papa, sendo todos eles bispos (alguns só são titulares). Aliás, o próprio Papa é eleito, de forma vitalícia (a abdicação é rara, porque já não acontecia desde a Idade Média) pelo Colégio dos Cardeais. A cada cardeal é atribuída uma igreja ou capela (e daí a classificação em cardeal-bispo, cardeal-presbítero e cardeal-diácono) em Roma para fazer dele membro do clero da cidade. Muitos dos cardeais servem na Cúria, que assiste o Papa na administração da Igreja. Todos os cardeais que não são residentes em Roma são bispos diocesanos.
Patriarcas são normalmente títulos possuídos por alguns líderes das Igrejas Católicas Orientais sui juris. Estes patriarcas orientais, que ao todo são seis, são eleitos pelos seus respectivos Sínodos e depois reconhecidos pelo Papa. Mas alguns dos grandes prelados da Igreja Latina, como o Patriarca de Lisboa e o Patriarca de Veneza, receberam também o título de Patriarca, apesar de ser apenas honorífico e não lhes conferirem poderes adicionais.
Arcebispos (Metropolita ou Titular) são bispos que, na maioria dos casos, estão à frente das arquidioceses. Se a sua arquidiocese for a sede de uma província eclesiástica, eles normalmente têm também poderes de supervisão e jurisdição limitada sobre as dioceses (chamadas sufragâneas) que fazem parte da respectiva província eclesiástica.
Bispos (Diocesano, Titular e Emérito) são os sucessores directos dos doze Apóstolos. Receberam o todo do sacramento da Ordem, o que lhe confere, na maioria dos casos, jurisdição completa sobre os fiéis da sua diocese.
Presbíteros ou Padres são os colaboradores dos bispos e só têm um nível de jurisdição parcial sobre os fiéis. Alguns deles lideram as paróquias da sua diocese.
Monsenhor é um título honorário para um presbítero, que não dá quaisquer poderes sacramentais adicionais.
Diáconos são os auxiliares dos presbíteros e bispos e possuem o primeiro grau do Sacramento da Ordem. São ordenados não para o sacerdócio, mas para o serviço da caridade, da proclamação da Palavra de Deus e da liturgia. Apesar disso, eles não consagram a hóstia (parte central da Missa) e não administram a Unção dos enfermos e a Reconciliação.
Todos os ministros sagrados supra-mencionados fazem parte do clero. A
Igreja acredita que os seus clérigos são "ícones
de Cristo", logo todos eles são homens, porque os doze
Apóstolos são todos homens e Jesus, na sua forma
humana, também é homem. Mas isto não quer dizer
que o papel da mulher na Igreja seja menos importante, mas apenas
diferente. Os clérigos são importantes porque efectuam
exclusivamente determinadas tarefas, como a celebração
da Missa e dos sacramentos.
Dentro da Igreja, existem um
grupo de leigos ou de clérigos que decidiram tomar uma vida
consagrada e normalmente agrupam-se em ordens religiosas,
congregações religiosas ou em institutos seculares,
existindo porém aqueles que vivem isoladamente ou até
junto dos não-consagrados. Estes movimentos apostólicos
têm a sua própria hierarquia e títulos
específicos.
Culto
e prece
Na
Igreja Católica, para além do culto de adoração
a Deus (latria), existe também o culto de veneração
aos Santos (dulia) e à Virgem Maria (hiperdulia). Estes dois
cultos, sendo a latria mais importante, são muito diferentes,
mas ambos são expressos através da liturgia, que é
o culto oficial e público da Igreja, e também através
da piedade popular, que é o culto privado dos fiéis.
Dentro da liturgia, destaca-se a Missa (de frequência
obrigatória aos Domingos e festas de guarda) e a Liturgia das
Horas; enquanto que na piedade popular, destacam-se indubitavelmente
as devoções e as orações quotidianas.
Apesar de a piedade popular ser de certo modo facultativa, ela é
muito importante para o crescimento espiritual dos católicos.
As principais devoções católicas são
expressas em "fórmulas de orações" a
Deus (Pai, Filho e Espírito Santo), à Virgem Maria e
aos Santos (novenas, trezena, Santo Rosário...); em
"peregrinações aos lugares sagrados"; na
veneração de medalhas, estátuas, relíquias
e imagens sagradas e bentas de Cristo, dos Santos e da Virgem Maria;
em procissões; e em outros "costumes populares".
Liturgia
O ato de prece mais importante na Igreja Católica é,
sem dúvida, a liturgia Eucarística, normalmente chamada
de Missa. A liturgia, que é centrada na missa, é a
celebração oficial e pública do Mistério
de Cristo e em particular do seu Mistério Pascal. Através
dela, Cristo continua na sua Igreja, com ela e por meio dela, a obra
da nossa redenção. Esta presença e actuação
de Jesus são assegurados eficazmente pelos sete sacramentos,
com particular para a Eucaristia, que renova e perpetua o sacrifício
da cruz no decorrer dos séculos até ao regresso de
Jesus. Por isso, toda a missa centra-se na Eucaristia, porque ela é
fonte e cume da vida cristã e nela a acção
santificadora de Deus em nosso favor e o nosso culto para com Ele
atingem o cume.
Jesus, como Cabeça, celebra a liturgia
com os membros do seu Corpo, ou seja, com a sua Igreja celeste e
terrestre, constituída por santos e pecadores, por habitantes
da Terra e do Céu. Cada membro da Igreja terrestre celebra e
actua na liturgia segundo a sua própria função,
na unidade do Espírito Santo: os baptizados oferecem-se em
sacrifício espiritual; os Bispos e os presbíteros agem
na pessoa de Cristo Cabeça, representando-O no altar. Daí
que só os clérigos (exceptuando os diáconos) é
que podem celebrar e conduzir a Missa, nomeadamente a consagração
da hóstia. Apesar de celebrar o único Mistério
de Cristo, a Igreja possui muitas tradições litúrgicas
diferentes, devido ao seu encontro, sempre fiel à Tradição
católica, com os vários povos e culturas.
A
missa é celebrada todos os domingos. Os católicos devem
também ir à missa em cerca de dez dias adicionais por
ano, chamados de Dias Santos de Obrigação. Missas
adicionais podem ser celebradas em qualquer dia do ano litúrgico.
Muitas igrejas têm missas diárias.
Além
da missa, a Liturgia das Horas também é extremamente
importante na vida eclesial, porque ela é a oração
pública e comunitária oficial da Igreja Católica.
Esta oração consiste basicamente na oração
quotidiana em diversos momentos do dia, através de Salmos e
cânticos, da leitura de passagens bíblicas e da elevação
de preces a Deus. Com essa oração, a Igreja procura
cumprir o mandato que recebeu de Cristo, de orar incessantemente,
louvando a Deus e pedindo-Lhe por si e por todos os homens. A
Liturgia das Horas, que é uma antecipacão para a
celebração eucarística, não exclui, mas
requer de maneira complementar, as diversas devoções
católicas, particularmente a adoração e o culto
do Santíssimo Sacramento.
História
da Igreja Católica
A história da Igreja Católica cobre um período
de aproximadamente dois mil anos, e relata os eventos de uma das mais
antigas instituições religiosas em atividade, influindo
no mundo em aspectos espirituais, religiosos, morais, políticos
e sócio-culturais. A história da Igreja Católica
é integrante à História do Cristianismo e a
história da civilização ocidental.
A
Igreja Católica acredita que ela está na História,
mas ao mesmo tempo transcende. É unicamente "com os olhos
da Fé" que se pode enxergar em sua realidade visível,
ao mesmo tempo, uma realidade espiritual, portadora de vida divina.
Origem
da Igreja
A Igreja Católica acredita que a sua História remonta a
Jesus Cristo e ao Apóstolo Pedro, a quem, segundo a doutrina
católica, Cristo prometeu o Primado da Igreja fundada por Ele:
"Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja". Os católicos
acreditam também que Jesus entregou a São Pedro a
autoridade suprema da Igreja: "Dar-te-ei as chaves do Reino dos
Céus" (cf. Mt 16, 17-20), facto confirmado por Jesus
depois da sua ressurreição: "Apascenta os meus
cordeiros" (cf. Jo. 21, 15-17). Estes são alguns dos
versículos da Bíblia que os católicos usam para
defender que Jesus teria apontado Pedro, depois Bispo de Roma, e seus
sucessores, como fundamento e cabeça visível de toda a
Igreja.
Perseguição
e crescimento
O Cristianismo nasceu e desenvolveu-se dentro do quadro
político-cultural do Império Romano. Durante três
séculos o Império Romano perseguiu os cristãos,
porque a sua religião era vista como uma ofensa ao estado,
pois representava outro universalismo e proibia os fiéis de
prestarem culto religioso ao soberano imperial. Durante a
perseguição, e apesar dela, o cristianismo propagou-se
pelo império. As principais e maiores perseguições
foram as de Nero, no século I, a de Décio no ano 250, a
de Valeriano (253-260) e a maior, mais violenta e última a de
Diocleciano entre 303 e 304, que tinha por objetivo declarado acabar
com o cristianismo e a Igreja. O balanço final desta última
perseguição constituiu-se num rotundo fracasso.
Diocleciano, após ter renunciado, ainda viveu o bastante para
ver os cristãos viverem em liberdade graças ao Édito
de Milão, iniciando-se a Paz na Igreja.
No decurso do
século IV, o Cristianismo começou a ser tolerado pelo
Império, para alcançar depois um estatuto de liberdade
e converter-se finalmente, no tempo de Teodósio, em religião
oficial do Estado. O imperador romano, por esta época,
convocou as grandes assembléias dos bispos, os concílios,
e a Igreja pôde então dar início à
organização de suas estruturas territoriais.
A
igreja cristã na região do Mediterrâneo foi
organizada sob cinco patriarcas, os bispos de Jerusalém,
Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Roma. As antigas comunidades
cristãs foram, então sucedidas pela "sociedade
cristã", o cristianismo passou de religião das
minorias para então se tornar em religião das
multidões. Com a decadência do Império os bispos
pouco a pouco foram assumindo funções civis de caráter
supletivo e a escolha do bispo passou a ser mais por escolha do clero
do que pela pequena comunidade, segundo as fórmulas antigas.
Por essa época não foram poucas as intervenções
dos nobres e imperadores nas suas escolhas. Figuras expressivas da
vida civil foram alçadas à condição de
bispo, exemplo disto foram Santo Ambrósio, governador da Alta
Itália que passou a bispo de Milão; São Paulino
de Nola, ex-cônsul e Sidônio Apolinário, genro do
imperador Avito e senhor do Sul das Gálias, que foi eleito
bispo de Clermont-Ferrand.
Antes de findar o século IV
o Concílio de Niceia (325) e o Primeiro Concílio de
Constantinopla, em respostas às heresias arianas e ao
macedonismo, formularam a doutrina da Trindade que ficou fixada no
seu conjunto no "Símbolo niceno-constantinopolitano".
Por esta época colocou-se a questão da humanidade e
divindade de Cristo que ficou definida no Concílio de Éfeso,
convocado pelo imperador Teodósio II, que afirmou que Cristo é
"perfeito Deus e perfeito homem" e definiu Maria como
"Aquela que portou Deus" (Theotokos) em resposta à
heresia Nestoriana (do bispo Nestório) que lhe atribuia apenas
o Christotokos (Aquela que portou Cristo). Esta posição
depois foi reafirmada no Concílio de Calcedônia (451) e
no Terceiro Concílio de Constantinopla (680).
Padres
da Igreja
Os tempos de ouro da Patrística foram os séculos IV e
V, embora possa se entender que se estenda até o século
VII a chamada "idade dos Padres". Os principais Pais do
Oriente foram: Eusébio de Cesareia, Santo Atanásio,
Basílio de Cesareia, Gregório de Nisa, Gregório
Nazianzo, São João Crisóstomo e São
Cirilo de Alexandria.
Os principais Padres do Ocidente são:
Santo Agostinho, autor das "Confissões", obra prima
da literatura universal e Santo Ambrósio, Eusébio
Jerônimo, dálmata, conhecido como São Jerônimo
que traduziu a Bíblia diretamente do hebraico, aramaico e
grego para o latim. Esta versão é a célebre
Vulgata, cuja autenticidade foi declarada pelo Concílio de
Trento. Outros pais que se destacaram foram São Leão
Magno e Gregório Magno, este um romano com vistas para a Idade
Média, as suas obras "os Morais e os Diálogos"
serão lidas pelos intelectuais da Idade Média, e o
"canto gregoriano" permanece vivo até os dias de
hoje. Santo Isidoro de Sevilha, falecido em 636, é considerado
o último dos grandes padres ocidentais.
Por esta época
surgiu o monaquismo. Em busca de uma imitação de Cristo
mais perfeita, com o tempo o ascetismo cristão tomou formas de
afastamento do mundo. Santo Antão é figura-símbolo
do monaquismo dos primeiros séculos, mas a sua figura central
é São Bento que com os seus dois primeiros mosteiros e
a sua famosa "Regra" serviu de referência típica
para o monaquismo, principalmente no Ocidente. Na idade média
os mosteiros prestaram relevantes serviços e, dentre outros,
tiveram a grande missão de conservar a cultura antiga.
À
medida que o Império romano decaía, a Igreja assumiu
muitas de suas funções e ajudou a manter a ordem no
meio do caos que se generalizava. O fato de nem tudo se haver perdido
se deve em grande parte à influência ordenadora da
organização eclesial. Por ela foram estimulados os
ideais de justiça social, preservada e transmitida a cultura
antiga e civilizadas as populações bárbaras.
Novos
Horizontes
O Cristianismo, com a invasão dos bárbaros germânicos
vindos do oriente a partir do século IV, teve nova
oportunidade de expansão. Missionários levaram a
mensagem do cristianismo para além das divisas antigas do
Império. Winifrid, monge inglês que mudou o nome para
Bonifácio, foi o grande apóstolo da Alemanha. Nos
primórdios do século VI, no Natal, Clodoveu, rei dos
francos recebeu o batismo católico, com ele todo o reino se
converteu ao catolicismo. A França é considerada a
filha primogênita da Igreja. Os magiares se converteram
acompanhando o seu rei Santo Estevão, os boêmios com São
Wenceslau e os poloneses com o batizado do duque Miezko.
O
Mediterrâneo, no entanto, por volta do século VII se viu
às voltas com o avanço muçulmano, estes
dominaram o norte da África, parte do Oriente que havia sido
cristianizado e, no ano 711, desembarcaram na Península
Ibérica para conquistar com velocidade surpreendente o reino
visigodo cristão e, a final, serem detidos em Poitiers por
Carlos Martel. Por oito séculos os muçulmanos
permaneceram na península. O relacionamento, neste período,
entre muçulmanos e cristãos conheceu altos e baixos,
desde inimigos em combates históricos a aliados episódicos
contra vizinhos desafetos, uns e outros suportaram a dominação
do adversário de forma desigual e inconstante, segundo as
circunstâncias históricas de cada século. No
início da Idade Média o Cristianismo sofreu ingerências
dos senhores feudais, tanto nos bispados como na Santa Sé o
que levou a vida eclesiástica a sofrer uma decadência
moral.
O
Grande Cisma
O Grande Cisma do Oriente,
também chamado de Cisma do Oriente ou Cisma Ocidente-Oriente,
foi o cisma que separou definitivamente a Igreja ex-Católica
Ortodoxa (agora chamado o "Igreja" Cismática
"Ortodoxa") da Igreja Católica Romana. O cisma
ocorreu no século XI, mais especificamente no ano de 1054, na
cidade de Constantinopla.
O Bispo de Roma era tido
(erradamente) pelos outros Patriarcas como "o primeiro entre
iguais", embora o seu estatuto e influência tenha crescido
quando Roma era a capital do império, com as disputas
doutrinárias ou procedimentais a serem frequentemente
remetidas a Roma para obter uma opinião. Mas quando a capital
se mudou para Constantinopla, a sua influência diminuiu.
Enquanto Roma reclamava, corretamente, uma autoridade que lhe
provinha de São Pedro (que, segundo a tradição,
morreu naquela cidade, e é considerado por ela o primeiro
papa) e São Paulo, Constantinopla tornara-se a residência
do Imperador e do Senado.
Veja: A
Bíblia ensina que Jesus fez São Pedro o primeiro Papa
Motivos do Cisma
O distanciamento entre as duas igrejas tem formas culturais e
políticas muito profundas, cultivadas ao longo de séculos.
As tensões entre as duas igrejas datam no mínimo da
divisão do Império Romano em oriental e ocidental, e a
transferência da capital da cidade de Roma para Constantinopla,
no século IV.
Uma diferença crescente de pontos
de vista entre as duas igrejas resultou da ocupação do
oeste pelos outrora invasores bárbaros, enquanto o leste
permaneceu herdeiro do mundo clássico. Enquanto a cultura
ocidental se foi paulatinamente transformando pela influência
de povos como os germanos, o Oriente permaneceu desde sempre ligado à
tradição da cristandade helenística. Era a
chamada Igreja de tradição e rito grego. Isto foi
exacerbado quando os papas passaram a apoiar o Sacro Império
Romano no oeste, em detrimento do Império Bizantino no leste,
especialmente no tempo de Carlos Magno. Havia também disputas
doutrinárias e acordos sobre a natureza da autoridade papal.
A Igreja de Constantinopla respeitou a posição
de Roma como a capital original do império, mas ressentia-se
de algumas exigências jurisdicionais feitas pelos papas,
reforçadas no pontificado de Leão IX (1048-1054) e
depois no dos seus sucessores. Para além disso, existia a
oposição do Ocidente em relação ao
cesaropapismo bizantino, isto é, a subordinação
da Igreja oriental a um chefe secular, como acontecia na Igreja de
Bizâncio.
Uma ruptura grave ocorreu de 856 a 867, sob o
patriarca Fócio, este sabia que contribuía para
aumentar o distanciamento entre gregos e latinos, e usou a questão
do filioque como ponto de discórdia, erroneamente condenou a
sua inclusão no Credo da Cristandade ocidental e lançou
contra ela a acusação de "heresia". Desse
modo, para o futuro as pendências não seriam apenas de
natureza disciplinar e litúrgica, mas também de
natureza dogmática, com o que se comprometia de modo quase
irremediável a unidade.
O
Cisma
Quando Miguel Cerulário
se tornou patriarca de Constantinopla, no ano de 1043, deu início
a uma campanha contra as Igrejas latinas na cidade de Constantinopla,
envolvendo-se na discussão teológica da natureza do
Espírito Santo, questão que viria a assumir uma grande
importância nos séculos seguintes.
Uma série
de dificuldades complexas (disputas doutrinárias, Concílios
disputados, a evolução de ritos separados e se a
posição do Papa de Roma era ou não de real
autoridade ou apenas de respeito) levaram à divisão em
1054 que separou a Ortodoxa Igreja Católica no Ocidente a
partir das "Igrejas" Heréticas "Ortodoxas"
Orientales no Leste (Grécia, Rússia e muitas das terras
eslavas, Anatólia, Síria, Egipto, etc.). A esta divisão
chama-se o Grande Cisma do Oriente.
Roma enviou o Cardeal
Humberto a Constantinopla em 1054 para tentar resolver este problema.
No entanto, esta visita acabou do pior modo, com a excomunhão
do patriarca Cerulário, um ato entendido como a excomunhão
de toda a Igreja bizantina e ao qual o Sínodo e Cerulário
responderam do mesmo modo a Roma, "excomungando" o papa
Leão IX. As igrejas, através de seus representantes
oficiais, também anatematizaram (denunciaram formalmente) uma
à outra.
A deterioração das relações
entre as duas igrejas contribuiu largamente para o episódio do
saque de Constantinopla durante a quarta Cruzada (1204) e o
estabelecimento do Império Latino (Ocidental) que durou 55
anos. Isso aprofundou ainda mais a ruptura e a desconfiança
mútua.
Houve várias tentativas de reunificação,
principalmente nos Concílios Ecumênicos de Lyon (1274) e
Florença (1439), mas as reuniões mostraram-se efêmeras.
Estas tentativas acabaram efetivamente com a queda de Constantinopla
em mãos dos otomanos, em 1453, que ocuparam quase todo o
antigo Império Bizantino por muitos séculos.
Apogeu
medieval
Os séculos XII e XIII formaram o apogeu clássico da
cristandade medieval. Inocêncio III é a figura que
desponta nesta época. Por este tempo reuniram-se concílios,
surgiram as universidades, foram fundadas ordens religiosas de renome
a de São Francisco de Assis, de São Domingos de Gusmão,
São Bruno fundou a Cartuxa, e São Bernardo de Claraval,
talvez o personagem europeu de maior importância do século
XII, deu notável impulso à Ordem de Cister. Surgiram
ainda a Ordem das Mercês (Mercedários), os ermitãos
de Santo Agostinho, e a Ordem do Carmo dentre outras. Surge também
a "Escolástica", é o tempo de Alberto Magno e
de Tomás de Aquino e a Suma Teológica e do primeiro
"código canônico" (Decretais de Gregório
IX), recompilado por São Raimundo de Penhaforte. Surge a
Universidade de Paris que tem os seu privilégios reconhecidos
pelo Papa Inocêncio III, em 1215, e as de Oxford, Bolonha e
Salamanca.
São deste tempo as Cruzadas, os Templários,
os Hospitalários, as Ordens Militares e o "cavaleiro
cristão" de que El Cid, Rodrigo Dias de Vivar, é o
clássico modelo. O Papa concedia graças especiais aos
combatentes, e nelas se envolveram príncipes e povos numa
demonstração supranacional do elevado grau de seriedade
da religiosidade da época. Também na Península
Ibérica durante a reconquista os Papas decretaram algumas
cruzadas contra o Islã, a mais famosa delas foi a batalha de
Navas de Tolosa em 1212.
A decadência das cruzadas
coincide com o movimento das missões. São Francisco de
Assis consegue com o anúncio do Evangelho e o exemplo da
caridade o que as armas não alcançaram. Aparecem as
grandes Catedrais, a arte medieval é praticamente exclusiva
arte sacra e têm lugar as grandes peregrinações
com sentido penitencial: ao Santo Sepulcro, aos túmulos de São
Pedro e São Paulo, em Roma e a Santiago de Compostela.
Crise
e cisma do Ocidente
O Grande Cisma do Ocidente, Cisma Papal ou simplesmente Grande Cisma
foi uma crise religiosa que ocorreu na Igreja Católica de 1378
a 1417.
Correntes religiosas orientais antigas lançaram
as suas raízes no sul da França e norte da Itália.
Surgiram os "Valdenses" e os "Albigenses" ou
"Cátaros", baldados os esforços
religiosos-diplomáticos de Inocêncio III. Este acabou
por convocar uma vitoriosa cruzada chefiada por Simão de
Monforte. Para continuar a luta contra esta heresia foi criada a
Inquisição exclusivamente para a defesa da fé e
o combate à heresia. Nesta empresa rivalizaram o poder
eclesiástico e o poder civil. Em 1232 foi criada por Gregório
IX a Inquisição Pontifícia, tanto o sistema
penal da época como o processo inquisitorial tiveram graves
defeitos que ferem a sensibilidade do homem moderno.
A Baixa
Idade Média viu ainda surgir novas doutrinas heréticas,
como as de Wiclef, professor em Oxford, cujas proposições
são consideradas como precursoras dos reformadores do século
XVI e tiveram forte influência sobre João Huss, cujas
ideias tiveram ampla aceitação na Boêmia.
Os
violentos conflitos entre o Imperador Frederico II e os Papas
Gregório IX e Inocêncio IV foram a causa imediata da
crise do sistema doutrinal e político da cristandade no século
XIII, o que gerou um ressentimento dos povos germânicos contra
o papado e que se constitui em causa remota que favoreceu a revolução
luterana. Os conflitos entre Bonifácio VIII e Filipe, o Belo,
rei da França culminaram com o Papa prisioneiro em Avinhão.
Em Avinhão o pontificado afrancesou-se: foram franceses os
sete papas que ali se sucederam bem como a grande maioria dos
cardeais. Apareceu um nacionalismo eclesiástico que desperta o
interesse dos soberanos do ocidente. Em 1377 Gregório XI
retorna a Sé Apostólica para Roma, no episódio
sobressai a figura de Santa Catarina de Sena.
A crise culmina
no Cisma do Ocidente, os reis europeus se filiam a diferentes papas
segundo as sua conveniências, chegam a ter até tres
papas, cada um pretendendo ser a única cabeça legítima
da Igreja. O Cisma deixou a cristandade dividida e perplexa, até
mesmo entre os santos: Santa Catarina de Sena manteve-se ao lado de
Papa Urbano VI enquanto São Vicente Ferrer posicionou-se a
favor de do Antipapa de Avinhão, Clemente VII. O Cisma do
Ocidente vai de 1378 a 1417 e só vai terminar com a eleição
de Papa Martinho V, quando a Igreja recupera a sua unidade.
Grande
Cisma do Ocidente
Entre 1309 e 1377, a residência
do papado foi alterada de Roma para Avinhão, na França,
pois o Papa Clemente V, foi levado (sem possibilidade de debate) pelo
rei francês para residir em Avinhão. Em 1378, o Papa
Gregório XI voltaria para Roma, onde faleceria. A população
italiana desejava que o papado fosse restabelecido em Roma. Foi então
eleito o Papa Urbano VI, de origem italiana. No entanto, ele
demonstrou ser um papa muito autoritário, de modo que uma
quantidade considerável do Colégio dos Cardeais,
anularia a sua votação e foi realizado um novo
conclave, sendo eleito Clemente VII, que passou a residir em Avinhão.
Iniciara-se assim o Cisma, em que o Papa residia em Roma e o Antipapa
residia em Avinhão, reclamando ambos para si o poder sobre a
Igreja Católica. Posteriormente, surgiria outro Antipapa em
Pisa. O cisma terminou no Concílio de Constança em
1414, quando o papado foi estabelecido definitivamente em Roma.
História
De 1309 a 1377, o papa não
residia em Roma, mas em Avinhão, um período geralmente
chamado de Cativeiro Babilônico, em alusão ao exílio
bíblico de Israel na Babilônia. O Papa Gregório
XI deixou Avinhão e restabeleceu a Santa Sé em Roma,
onde morreu em 27 de março de 1378. A eleição de
seu sucessor, definiria a residência do futuro papa em Avinhão
ou Roma. O nome do Bartolommeo Prignano, Arcebispo de Bari,
considerado com uma rígida moral e inimigo da corrupção,
foi proposto. Os dezesseis cardeais italianos presentes em Roma
reuniram-se em conclave em 7 de abril. No dia seguinte escolheram
Prignano. Durante a eleição houve grande perturbação
na cidade, pois o povo de Roma e dos arredores esforçou-se
para influenciar a decisão dos cardeais, que tomaram meios
para evitar possíveis dúvidas. No dia 13 eles
realizaram uma nova eleição e, novamente, escolheram o
Arcebispo Prignano para se tornar papa. Durante os dias seguintes
todos os membros do Colégio dos Cardeais aprovaram o novo
papa, que tomou o nome de Urbano VI e tomou posse. Um dia depois, o
cardeais italianos notificaram oficialmente a eleição
de Urbano aos seis cardeais franceses em Avinhão, que o
reconheceram como papa e, em seguida, escreveram ao Imperador e aos
demais soberanos. Tanto o cardeal Roberto de Genebra, o futuro
Antipapa Clemente VII de Avinhão, e Pedro de Luna de Aragão,
o futuro Antipapa Bento XIII, também aprovaram sua eleição.
O Papa Urbano não atendeu às necessidades de
sua eleição, criticou os membros do Colégio dos
Cardeais e se recusou a restaurar a sede pontifical em Avinhão.
Os cardeais italianos então em maio de 1378, se retiraram para
Anagni, e em julho para Fonti, sob a proteção da Rainha
Joana de Nápoles e Bernardon de la Salle, iniciaram uma
campanha contra a sua escolha, preparando-se para uma segundo
eleição. Em 20 de setembro, treze membros do Colégio
do Cardeais fizeram um novo conclave em Fondi e escolheram Roberto de
Genebra como "papa", que tomou o nome de Clemente VII.
Alguns meses depois, esse antipapa, apoiado pelo Reino de Nápoles,
assumiu sua residência em Avinhão. O cisma começava.
Clemente VII possuía relações com as
principais famílias reais da Europa. Os estudiosos e os santos
da época normalmente apoiavam o papa adotado pelo seu país.
A maior parte de estados italianos e alemães, a Inglaterra e a
Flandres apoiaram o papa de Roma. Por outro lado, França,
Espanha, Escócia e todas as nações aliadas da
França apoiaram o antipapa de Avinhão. O conflito
rapidamente deixou de ser um assunto da Igreja para se tornar um
incidente diplomático disseminado pelo continente europeu:
Avignon
França, Aragão, Castela,
Leão, Chipre, Borgonha, Condado de Saboia, Nápoles e
Escócia reconheceram o reclamante de Avignon;
Roma
Dinamarca, Inglaterra, Flandres, o Sacro Império,
Hungria, Norte da Itália, Irlanda, Noruega, Polônia e
Suécia reconheceram o reclamante de Roma.
Os papas
excomungaram-se mutuamente, nomeando outros cardeais para compensar
as deserções, enviando mensageiros para a cristandade
defendendo sua causa e estabelecendo sua própria
administração. Posteriormente Bonifácio IX
sucedeu Urbano VI em Roma e Bento XIII sucedeu Clemente em Avinhão.
Vários clérigos reuniram-se em concílios
regionais na França e em outros lugares, sem resultado
definitivo. O rei da França e seus aliados em 1398 deixaram de
apoiar Bento e Geoffrey Boucicaut, sitiou Avinhão, o bloqueio
privou o antipapa de comunicação com todos aqueles que
permaneceram fiéis a ele. Bento retomou a liberdade somente em
1403. Inocêncio VII já tinha sucedido Bonifácio
de Roma, e após um pontificado de dois anos, foi sucedido por
Gregório XII.
Na época do cisma vivia-se na
península Ibérica as guerras fernandinas e a crise de
1383-1385, ambas opondo os reinos de Castela e Portugal por questões
dinásticas. Assim, no tempo de Fernando I de Portugal a sua
desastrosa política externa levou-o a apoiar o "Papa"
de Avinhão, que também tinha o apoio de Castela; depois
da crise sucessória, como Castela continuasse a defender o
"papa" de Avinhão, não será de
estranhar que João I de Portugal, para mostrar bem a sua
independência, fosse pelo Papa romano.
Em 1409, um
concílio que se reuniu em Pisa acrescentou um outro antipapa e
declarou os outros dois depostos. Depois de muitas conferências,
discussões, intervenções do poder civil e várias
catástrofes, o Concílio de Constança (1414)
depôs o Antipapa João XXIII, recebeu a abdicação
do Papa Gregório XII, e finalmente, conseguiu depôr o
Antipapa Bento XIII. Em 11 de novembro de 1417, o concílio
elegeu Odo Colonna, que tomou o nome de Martinho V, com o que
terminou o grande cisma do Ocidente e foi restabelecida a unidade.
Os papas e antipapas do cisma
* Em Roma
Papa Urbano VI (r. 1378 - 1389) Papa Bonifácio IX (r. 1389 - 1404) Papa Inocêncio VII (r. 1404 - 1406) Papa Gregório XII (.r. 1406 - 1417)
Antipapa Clemente VII (r. 1378 - 1394) Antipapa Benedito XIII (r. 1394 - 1417)
Antipapa Alexandre V (r. 1409 - 1410) Antipapa João XXIII (r. 1410 - 1417)
Linha do tempo
A
transição, Constantinopla e a América
Vários fatores contraditórios coincidem na passagem da
Idade Média para a Idade Moderna. As elites são
alimentadas por uma nova visão, agora antropocêntrica e
por um certo retorno à antiguidade pagã. Os papas do
renascimento, com exceção de Adriano VI, são
mais voltados para as artes e letras, tornaram-se mais governantes
voltados para os assuntos temporais e verdadeiros mecenas, que
preocupados com os problemas disciplinares eclesiásticos e
para as questões espirituais.
Constantinopla cai no
dia 29 de maio de 1453 na mão dos turcos otomanos. Perde-se o
Império do Oriente que começava a se reaproximar depois
do "Grande Cisma". Fechadas as portas para o Oriente têm
início então as "grandes navegações"
em que se destacaram as nações católicas
Portugal e Espanha, a descoberta das Américas abre caminho
para o Evangelho chegar a novos povos e permite novas perspectivas em
que irão se destacar, no primeiro momento, os jesuítas
de Santo Inácio de Loyola.
É deste tempo, o
Humanismo, culto exagerado dos clássicos latinos e gregos,
defendia uma piedade erudita. O maior dos humanistas foi Desidério
Erasmo (1466 - 1536), de Roterdão, amigo de Thomas Morus. Na
verdade, com exceção da Espanha, onde o humanismo
apoiado pelo Cardeal Cisneros foi sinceramente cristão, a
herança religiosa dos humanistas pouco contribuiu para uma
esperada reforma da Igreja.
A próxima grande partida a
partir da Igreja Católica ocorreu no século XVI com a
Reforma Protestante, durante a qual se formaram muitas das
denominações Protestantes.
A
Reforma Protestante
A Reforma protestante teve
Martinho Lutero por autor. Antigo frade da ordem dos Agostinhos o seu
êxito reformador deveu-se não só a influência
do diabo, mas em boa medida a uma série de fatores históricos
que se conjugaram de modo oportuno. Favoreceram o progresso da
Luteranismo fatores de ordem política, como os conflitos entre
papas e imperadores, a decadência moral do clero na Alemanha,
os nacionalismos eclesiásticos, interesses burgueses e um
império germânico fragmentado em pequenos principados e
cidades-estado, mas, principalmente o ressentimento contra Roma que
tinha tomado forma nos Gravamina Nationis Germanicae, a lista de
querelas e agravos da nação germânica contra a
Cúria Romana.
Lutero, de sua vez, construiu um sistema doutrinal-religioso herética
em franca divergência com a tradição da Igreja.
Segundo Lutero as obras do homem de nada servem para a salvação,
nem os sacramentos na sua maioria, nem o Papado. A Igreja não
seria nem depositária e nem interprete da Revelação.
A Sagrada Escritura apenas e exclusivamente seria a única
fonte da Revelação segundo a interpretação
livre que cada fiel em particular lhe desse, diretamente inspirado
por Deus. Publicou as 95 teses contra a Teologia Escolástica e
as 95 sobre as Indulgências (Wittemberg, 1517), condenadas pelo
Papa Leão X, que acabou por excomungá-lo (1521).
Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes
europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada
na Alemanha, e estendendo-se pela Suíça, França,
Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas
partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos
e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o
movimento conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica,
iniciada no Concílio de Trento.
O resultado da Reforma
Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre
os católicos romanos e os reformados ou protestantes,
originando o Protestantismo.
As doutrinas de Lutero tiveram
boa aceitação: a supressão do celibato
eclesiástico por não poucos sacerdotes, numa época
de baixo nível moral do clero; a supressão dos votos
monásticos por comunidades religiosas. A doutrina de que "a
fé sem as obras justifica" resolveu o problema de muitas
pessoas conscientes de seus pecados mas desejosos de garantir a
própria salvação. A possibilidade de se
apropriar dos bens da Igreja atiçou a cobiça dos
príncipes.
Em 1546, quando Lutero faleceu, a Reforma
protestante já abrangia mais da metade da Alemanha. Zuínglio
na Suíça, João Calvino na França, levaram
adiante ideias similares às de Lutero. O Calvinismo vai
arraigar-se com profundidade em Genebra, entre os franceses
(huguenotes), na Escócia com John Knox e de uma forma mais
amena nos Estados Unidos com a Igreja Presbiteriana. Na Inglaterra,
Henrique VIII, por razões pessoais - não obtendo a
invalidação de seu casamento - se faz "Cabeça
suprema" da igreja no país - provocando o martírio
de Tomás Moro, Lord Chanceler do Rei, de John Fisher, Bispo de
Rochester, e de alguns sacerdotes, frades franciscanos e monges
capuchos.
A
Reforma Católica
Contrarreforma ou Contra-reforma, também denominada Reforma
Católica é o nome dado ao movimento criado no seio da
Igreja Católica em resposta à Reforma Protestante
iniciada com Lutero, a partir de 1517, teve como ponto principal o
Concílio de Trento, embora este movimento tenha começado
anteriormente em vários setores da Igreja. Em 1534 foi eleito
Papa, aos 66 anos de idade, o Cardeal Alexandre Farnesio, que tomou o
nome de Paulo III. Vencendo a resistência de reis e príncipes
convocou o Concílio Ecumênico de Trento, que inicia os
trabalhos as 13 de dezembro de 1545 e só concluiu em 1563.
Em 1543, a igreja Católica Romana convocou o Concílio
de Trento estabelecendo entre outras medidas, a retomada do Tribunal
do Santo Ofício (inquisição), a criação
do "Index Librorum Prohibitorum", com uma relação
de livros proibidos pela igreja e o incentivo à catequese dos
povos do Novo Mundo, com a criação de novas ordens
religiosas dedicadas a essa empreitada, incluindo aí a criação
da Companhia de Jesus. Outras medidas incluíram a reafirmação
da autoridade papal, a manutenção do celibato, a
criação do catecismo e semináriose, e a
supressão de abusos envolvendo indulgências. A
Inquisição e a censura exercida pela Igreja Católica
foram igualmente determinantes para evitar que as idéias
reformadoras encontrassem divulgação em Portugal,
Espanha ou Itália, países católicos.
O
Concílio determinou um novo vigor para a Igreja Católica.
Medidas reformadoras foram impostas em todos os países que se
mantiveram fiéis a Roma, cessando o avanço do
protestantismo. Em alguns cantões Suíços, na
Baviera, na Polônia, na Áustria consolidou-se o
catolicismo. O avanço português e espanhol nas Américas,
África e Ásia serviu de veículo à
expansão da fé católica. Acabaram-se os
pregadores de indulgências de "meia-pataca",
puseram-se fim aos abusos e ao relaxamento moral do clero,
restabelecendo uma disciplina eclesiástica. A Vulgata de São
Jerônimo seria a tradução latina oficial da
Igreja, todas as teses protestantes foram discutidas e revigorou-se
as doutrinas dogmática, moral e sacramental católicas.
Perante os cismas protestante e anglicano, cresceu no seio da
Igreja fiel a Roma o desejo de que a Igreja entrasse pela via de uma
autêntica reforma. Ela, porém, tardou, até que,
depois dos Papas da Renascença, encontrou o apoio de Papas
verdadeiramente interessados nessa reforma. Surgiu assim a ideia de
um Concílio reformador, que se reuniu em Trento, por três
períodos, entre 1545 e 1563, com a participação
de bispos de grande valor (S. Carlos Borromeu, Beato Bartolomeu dos
Mártires…). O Concílio condenou teses erróneas,
definiu doutrina e tomou diversas medidas disciplinares, entre as
quais a fundação de seminários para a formação
do clero. Para a sua aplicação, contou com papas de
valor, como S. Pio V (reforma litúrgica, Catecismo do
Concílio...) e com a Companhia de Jesus, fundada em 1540, que
exerceu extraordinária acção nos campos da
defesa do Papado, do ensino da Teologia e das Ciências, e da
evangelização dos novos povos. Outras ordens
religiosas, renovadas no seu espírito (p.ex., Carmelitas) ou
de novo fundadas, deram também preciosos contributos para a
autêntica reforma da Igreja.
Ao mesmo tempo São
Pedro Canísio no Leste Europeu, São Carlos Borromeu
como secretário de Estado de Pio IV, e mais tarde arcebispo de
Milão, aplicando a Reforma Católica ao norte da Itália,
foram elementos importantes para o cumprimento dos decretos do
Concílio de Trento. Santa Teresa de Jesus, reformadora do
Carmelo; Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de
Jesus, ao falecer deixara ordenados mais de mil jesuítas
evangelizando o mundo inteiro, e São Filipe Néri, foram
três gigantes da Reforma Católica. São Thomas
Morus morreria decapitado por se manter fiel à fé,
juntamente com John Fisher e o Venerável Edmundo Campion. São
Francisco Xavier levaria o Evangelho ao Extremo Oriente, à
Índia, Malaia, Japão e à China, São
Francisco de Borja repararia com folga os erros de sua família,
São Roberto Belarmino daria novo impulso á teologia. A
Igreja ressurgia da crise fortalecida e revigorada doutrinal e
espiritualmente.
A
ascensão francesa
No século XVII a França passou a ocupar o espaço
que anteriormente era o da Espanha e passou a ser a principal
referência da vida cristã.
A França
permaneceu católica e com o Édito de Nantes (1598) os
protestantes huguenotes receberam garantias de tolerância
religiosa. Começa então um período de vívida
atividade, as missões de São Francisco de Sales em
Chablais, conseguiram o regresso ao catolicismo de grande parte da
suiça francesa.
São Vicente de Paulo também
promoveu missões de alcance popular, às quais se
dedicaram os lazaristas, oriundos do Seminário de São
Lázaro, desenvolveu intensa atividade beneficente e social,
principalmente através das Irmãs da Caridade. São
João Batista de La Salle funda uma ordem religiosa voltada
para o ensino, e a ordem de Cister foi reformada pelo abade Rancé,
dando origem à ordem dos trapistas.
No espírito
tridentino foi fundado o "Oratório" pelo Cardeal
Bérulle e Jean-Jacques Olier os "sulpicianos" do
seminário de São Sulpício, formador de
professores e mestres para outros seminários. A
intelectualidade francesa foi enriquecida com personalidades
católicas do nível de Blaise Pascal, Mabillon, Bossuet
e Fénelon e Luís XIII consagra a França à
Santíssima Virgem (1638) e Luís XIV revogou o Édito
de Nantes (1685) impondo a unidade católica pela força.
O século XVII foi também um período de
intensas disputas doutrinário-teológicas, o que
demonstra a vitalidade e o interesse pelo tema religioso. São
desta época o as correntes de pensamento religioso do
"Molinismo" e os "Bañezianos" seus
adversários, o "Jansenismo" e o "Quietismo",
algumas delas condenadas expressamente por Roma.
Do
Regalismo à Restauração
No século XVIII as monarquias católicas
pretenderam o controle da vida eclesiástica, movimento que
ficou conhecido como "Regalismo", o que fez com que o
Pontificado Romano perdesse parte de seu poder político. Isto
não só pela perda de territórios para nações
protestantes. Pretenderam fazer da Igreja um serviço público
subordinado ao rei e integrante da administração do
Estado. Este comportamento era característico do Despotismo
"Ilustrado". Catolicismo como única religião
oficial do Estado e sob intervenção do monarca e
desconfiança em relação a Roma, seria a marca
desta fase. Esta tendência anti-romana teve como alvo preferido
a Companhia de Jesus, principal força de que dispunha o
Papado. Os jesuítas foram expulsos de Portugal, da Espanha, de
Nápoles e da França e finalmente foram dissolvidos por
Clemente XIV.
Na França este intervencionismo clerical
de Luiz XIV ficou conhecido como "Galicanismo", nas terras
germânicas surgiu o "Febronianismo", de Febrónio,
psudônimo de João Nicolau de Hontheim, bispo auxiliar do
bispo eleitor de Tréveris que defendia a subordinação
da Igreja aos príncipes. Na Áustria surgiu o
"Josefismo" de igual tendência, o mesmo se deu com
Pedro, o Grande na Rússia, que suprimiu o Patriarcado da
Igreja russa. Os episcopados das monarquias regalistas se
transformaram em patrimônio da aristocracia, tornaram-se dóceis
ao poder, e nos finais do Antigo Regime a vida cristã tanto da
hierarquia como do povo aparentava languidez e opacidade.
A partir de 1680 verificou-se uma mudança de
mentalidades e ideias na Europa. Surge o racionalismo de Descartes
que levado ao extremo chega ao ceticismo religioso, surgiram os
"libertinos" que adotavam uma posição de
indiferença para com a religião, eram epicuristas:
"comamos e bebamos que amanhã morreremos". Espinoza
faz uma crítica radical contra a Bíblia e o "Deísmo"
da Inglaterra se propagou para o continente. O Deísmo não
nega Deus mas o afasta do homem e adota uma construção
panteísta e foi adotado pela Maçonaria, principalmente
a inglesa que surge nesta época. Combate qualquer religião
organizada, e era adversária em especial do cristianismo. Foi
condenada por Clemente XII em 1738. O ódio a qualquer religião
e principalmente ao cristianismo foi também uma obsessão
para Voltaire.
Mas o principal instrumento para divulgação
da ideologia "ilustrada" foi a "Enciclopédia",
projetada por Diderot e D'Alembert, com orientação
intelectual ostensivamente contrária ao Cristianismo, teve a
sua ideologia religiosa fortemente influenciada por Rosseau de linha
de pensamento vagamente Deísta. Emmanuel Kant de sua vez teve
decisiva importãncia no pensamento europeu do século
que viria.
O conflito entre o "Iluminismo"
e a Igreja Católica teve seu auge no final do século
XVIII com a Revolução Francesa, cuja Constituição
Civil do Clero aboliu muitos privilégios do clero e reduziu a
hierarquia francesa a funcionários públicos, sujeitos
às interpretações teológicas e
intervenções do Estado revolucionário.
A Revolução Francesa, nos seus momentos mais radicais,
fez o possível para eliminar qualquer religião e
extirpar qualquer resquício de vida cristã na
sociedade. Dois papas foram aprisionados na França, os templos
e bens da Igreja confiscados e depois cairam em mãos de
particulares. Sob o Terror, a perseguição anticatólica
atingiu o seu ponto máximo. Milhares de católicos
subiram ao patíbulo pelo simples fato de professarem a
religião e procedeu-se à matança dos clérigos
que não juraram a Constituição Civil do Clero,
proibida por Pio VI. Institui-se uma religião-ideologia de
estado e tentou-se difundir o culto pagão à
"Deusa-Razão" numa encenação da sua
coroação na Catedral de Notre-Dame de Paris, em 10 de
novembro de 1793.
Napoleão foi o restaurador da Igreja
na França com a Concordata de 17 de julho de 1801 e, ao
assumir o poder, restabeleceu as velhas práticas do "Regalismo
Galicano". Depois de Waterloo muitos católicos defenderam
uma "aliança entre o Trono e o Altar" achando que
assim se asseguraria uma estabilidade para ambos. Esta aliança
não duraria muito.
O
Século "Das Coisas Novas"
Em 1802 em consequência de uma Concordata entre Napoleão
e a Cúria Romana, a Igreja Católica recuperou sua
autonomia e legalidade na França.
As ondas do
nacionalismo fizeram com que o Papado percebesse que estava perdendo
terreno no poder temporal, assim passou a garantir sua hegemonia
espiritual sobre toda a Igreja Católica: em 1847 foi
estabelecido um Patriarcado Latino de facto em Jerusalém
(desde as cruzadas o título era somente honorário); a
hierarquia católica foi restabelecida e reconhecida pelo
parlamento na Inglaterra, graças em parte às campanhas
do irlandês O'Connel.
Surge nesta época o
Movimento de Oxford na Igreja Anglicana que procurava uma aproximação
com a Igreja Católica. Teólogos anglicanos como John
Henry Newman que se converteu em 1845 e depois nomeado Cardeal e
Edward Manning arcediago da Catedral de Chichester que converteu-se
em 1851 e depois nomeado também Cardeal são fatos
marcantes da vida da Igreja na Inglaterra deste século.
Em
1846, antes mesmo da proclamação do dogma, a Imaculada
Conceição era declarada padroeira dos Estados Unidos da
América e surgem os primeiros beatos e santos
norte-americanos: Filipa Duchesne, Santa Francisca Xaviera Cabrini e
Isabel Ana Seton.
Com as crises provocadas pelas guerras
franco-prussianas e da unificação da Itália,
Roma é invadida e o Papa se declara prisioneiro no Vaticano.
Pio IX, na encíclica Quanta cura, condena os erros do
liberalismo filosófico, do racionalismo, do pantéismo,
do naturalismo, do agnosticismo, do indiferentismo, do racismo, do
socialismo marxista e do comunismo.
Na verdade, a Igreja
surge rejuvenescida. É deste tempo o Cura d'Ars, São
João Maria Baptista Vianney, pároco de uma pequena
aldeia perto de Lyon, na França, mais tarde proclamado patrono
do clero secular; a Bernadete Soubirous de Lourdes e a confirmação
da proclamação do dogma da Imaculada Conceição
e as Conferências de São Vicente de Paulo, fundadas por
Frederico Ozanam.
Na Áustria, São Clemente
Hofbauer se notabiliza; na Itália, o trabalho de São
João Bosco regenera marginais, conquista a juventude e
convence pela caridade governos locais ateus e anticlericais. Santo
Antônio Maria Claret funda a ordem dos Claretianos
missionários.
Em 1854 é proclamado formalmente
o dogma da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem
Maria. Em 1869 o Papa Pio IX convoca o Concílio Vaticano I,
que afirma o dogma da Infalibilidade Pontifícia, na votação
todos os Padres Conciliares, exceto dois, votaram neste sentido, e
ambos os dissidentes logo que souberam do resultado aderiram, não
obstante, por isto, alguns teólogos fundarem a cismático
Igreja Vétero-Católica. A proclamação
deste dogma determinou a discriminação e mesmo a
perseguição de católicos na Prússia, onde
Bismarck havia lançada a sua kulturkampf, que depois será
contornada com a diplomacia de Leão XIII. O Concílio
também adota a Constituição Apostólica
Dei Filius que consolida a doutrina da Igreja sobre as relações
entre fé e razão.
Também inicia a era da
Doutrina Social da Igreja Católica, com a publicação
da encíclica Rerum Novarum (1891) pelo Papa Leão XIII
em que enfrenta os problemas da "questão social" que
surge e onde condena os excessos do liberal-capitalismo e a luta de
classes, defende o salário justo e proclama a função
social da propriedade e critica tanto Estado do laissez-faire como
dirigismo socialista.
O mesmo Leão XIII na encíclica
Aeterni Patris reafirma as doutrinas de São Tomás de
Aquino, na Immortale Dei (1885) dá diretrizes para a ação
política cristã. Este século deu ainda ao mundo
uma "pequena grande" santa: Teresa de Lisieux ou Terezinha
do Menino Jesus e da Sagrada Face, freira carmelita enclausurada,
falecida aos 24 anos de idade, canonizada, foi declarada co-padroeira
dos missionários ao lado de São Francisco de Sales e se
tornaria muito popular.
Os
primórdios do Século XX
Leão XIII foi sucedido por pelo Cardeal Sarto que assumiu o
nome de Pio X e que viria a ser canonizado. Este iniciou os trabalhos
de unificação das leis eclesiásticas que mais
tarde se tornariam no Código de Direito Canônico de
1917, combateu o modernismo e recomendou a comunhão das
crianças a partir da idade do discernimento. Faleceu nas
primeiras semanas da Primeira Guerra Mundial.
Bento XV,
Cardeal della Chiesa, exerceria o pontificado de 1914 a 1922. Durante
a Guerra, a Santa Sé realizaria um grande trabalho em favor
das suas vítimas e de localização de soldados
desaparecidos. A Bento XV sucedeu Pio XI (1922-1939): durante o seu
período na Santa Sé assinou o Tratado de Latrão
que instituiu o Estado da Cidade do Vaticano. Condenou os erros do
fascismo na carta Encíclica Non abbiamo bisogno, escrita não
em latim, mas na língua italiana, para que não se
tivesse dúvida a quem se dirigia. Criou e incentivou a Acção
Católica destinada a orientar o apostolado dos leigos,
desenvolveu também a ação missionária.
Inaugurou a Rádio Vaticano inserindo a Igreja na era da
tecnologia das comunicações, criou um observatório
astronômico e foram criadas universidades católicas na
Itália, Holanda e Polônia.
Durante o pontificado
de Pio XI foi assinado o Tratado de Latrão dando início
ao reconhecimento internacional do Estado do Vaticano tendo o Papa
como seu soberano e determinando o fim da chamada Questão
Romana. Em 1931 Pio XI publicou as Encíclicas Casti Connubii e
Quadragesimo anno por ocasião dos quarenta anos da publicação
da Rerum Novarum do Papa Leão XIII atualizando a Doutrina
Social da Igreja e a Divini Redemptoris, em que condenou os erros do
materialismo marxista e os do comunismo ateu, ideologia oficial da
União Soviética.
Publicou também a
Encíclica Mit brennender Sorge (Com ardente ansiedade) em
alemão, para condenar os erros do Nazismo e sua doutrina
racista, que foi lida em todas as igrejas alemãs em 1937, o
que determinou o recrudescimento da perseguição contra
os católicos pelos nazistas. Foi um tempo de florescimento da
Igreja que teve como contraponto a perseguição e o
mártírio de muitos cristãos. Na Rússia
comunista e no México a perseguição teve
dimensões inéditas. Durante a Guerra Civil Espanhola
(1936-1939), foram assassinados sete mil religiosos espanhóis
por "ódio à religião", pelo fato de
serem religiosos católicos.
A
Segunda Guerra e o pós-Guerra
A Segunda Grande Guerra produziu muitos mártires
católicos, dentre eles se destacam Edith Stein e Maximiliano
Kolbe e ainda o Rupert Mayer, nesta mesma época Clemens August
von Galen, cardeal e bispo de Münster, destacou-se na denúncia
dos crimes do nazismo.
O Cardeal Pacelli tomou o nome de Pio
XII (1939-1958), quando os nazistas ocuparam Roma, acolheu no
Vaticano milhares de perseguidos, de todos os credos e raças e
nacionalidades. Por uma grande soma de dinheiro resgatou 200 judeus
e, com a sua aprovação, Monsenhor O'Flaherty, alto
funcionário da Congregação do Santo Ofício,
organizou uma rede clandestina de auxílio aos perseguidos que
permitiu que fossem salvos milhares de judeus e comunistas.
Desde
1939 não se nomeavam novos cardeais. Pio XII, em 1946,
procedeu à nomeação das 32 vagas existente num
colégio de cardeais que na época era de 70 cardeais.
Nomeou quatro cardeais italianos e vinte e oito de outras
nacionalidades.
Em 1950, Pio XII proclamou solenemente o
dogma da Assunção da Virgem Maria cuja tradição
já era celebrada desde São Leão Magno, no século
V (15 de agosto) e consagrou a Humanidade ao Imaculado Coração
de Maria. Criou 190 dioceses e incentivou a criação de
novas instituições na Igreja. No seu tempo a divisão
da Europa aumentou o sofrimento da Igreja e a perseguição
religiosa no Leste Europeu.