Pentateuco

Pentateuco

Do grego, "os cinco rolos", o pentateuco é composto pelos cinco primeiros livros da Bíblia. Entre os judeus é chamado de Torá, uma palavra da língua hebraica com significado associado ao ensinamento, instrução, ou especialmente Lei, uma referência à primeira secção do Tanakh, i.e., os primeiros cinco livros da Bíblia Hebraica, atribuído a Moisés.

Introdução

Nos relatos do Antigo Testamento presenciamos a história do povo hebreu durante quase dois mil anos, desde a vinda de Abraão à Palestina até a instalação da dinastia dos Hasmoneus (cerca dos séc. XX-11 a.c): história essa em conexão, ora maior ora menor, ora direta ora indiretamente, com a dos povos vizinhos, sobretudo dos grandes impérios, entre os quais a Palestina jazia como ponte: ao sul, o Egito; ao norte, sucessivamente, Babilônia, a Assíria, a Pérsia e a Síria. Constituíam eles outros tantos centros de civilização, que se irradiava entre os povos submetidos ou vizinhos, formando uma vasta unidade cultural. No meio dessa civilização comum movia-se o povo de Israel, sofrendo a sua influência. Nas artes e na, indústria, Israel jamais desenvolveu uma civilização própria; ficou devedor ao estrangeiro, como também a sua língua e literatura trazem o cunho da origem comum ou do prestígio de outros povos socialmente mais evoluídos. No entanto, a ausência de originalidade e independência de civilização material, põe em muito maior relevo o valor das instituições religiosas e morais, elementos básicos da civilização genuína e completa que foram glória exclusiva desse povo eleito.


Valor da interpretação

O Antigo Testamento é uma obra verdadeiramente divina porque inspirada por Deus e porque nos apresenta, pode-se dizer, em cada uma de suas páginas, a ação de Deus sobre os homens. Ao mesmo tempo, porém, é uma obra profundamente humana, porque destinada aos homens, fala uma linguagem humana e nos apresenta, na sua história, os homens tais quais são, com suas deficiências e rebeldias contra os desígnios divinos. Não costuma encobrir as faltas dos seus heróis; Davi, por exemplo, de quem narra os pormenores do adultério e do homicídio (2 Sam 11). Mas ao lado do escândalo aparece a correção. Que há de mais edificante do que a santa ousadia de Natan em lançar à face de seu soberano o duplo delito, do que o arrependimento e a humilde confissão de Davi, o perdão da culpa, seguido da execução dum castigo da parte de Deus? (2Sam 12). Outras vezes o pecado é censurado mais abertamente (Gên 38:9-10). Só os fariseus poderiam escandalizar-se com tais narrativas, motivos de ensinamento! Além disso, quão poucos são eles em comparação com tantos exemplos de nobres virtudes! São apenas sombras humanas a dar maior realce às luzes divinas da história sagrada. As não poucas cenas de sangue que ela relata, não passam dum reflexo daqueles tempos rudes e ferozes. Também os anais de outros povos orientais estão repletos delas, distingüindo-se os dos hebreus até por um maior senso de humanitarismo; os reis de Israel gozavam de fama universal de clemência (1 Rs 20:31).

A relativa brandura dos hebreus derivava da legislação que Deus lhes dera por intermédio de Moisés. A pena de morte é aplicada mais raramente do que no código de Hamurabi, e quase só por meio de apedrejamento. Reconhece a lei de talião, em voga nos costumes dos povos, mas a mitiga (Ex 21:23, 25:28-32). Assim em outras asperezas (vingança do sangue) ou relaxamento de costumes (poligamia, divórcio)a lei, encontrando costumes inveterados e não podendo desarraigá-los totalmente, intervém para os refrear e regulamentar (cf: Mt 19:8). Doutra parte, impõe os deveres de humanitarismo também para com o próprio adversário (Êx 23:4-5) e estabelece a medida da mútua benevolência, com o preceito: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lev 19:18), donde a norma: "Não faças aos outros o que não te agrada" (Tob 4:16). Para com os estrangeiros, as viúvas, os órfãos, em suma, os mais necessitados, recomenda considerações especiais (Ex 22:21-23; Dt passim). Muitas vezes o próprio Deus, especialmente pela pregação dos profetas, faz-se seu advogado e protetor. Contra o abuso da escravidão, praga da sociedade antiga, a lei mosaica, além de múltiplas restrições (Ex 21:1-11; Lev 25:39-45; Dt 15:12-18), já defende o princípio de igualdade dos homens perante Deus (Lev 25:42). Nada disso se encontra em outros códigos orientais, sem falar na genuína doutrina religiosa, própria do Antigo Testamento, que também é fator autêntico de verdadeira civilização. Por outro lado, as suas mais nobres eminências o Antigo Testamento as atinge nos seus profetas, figuras grandiosas de poetas e de heróis.

Em comparação com a sublime doutrina evangélica, a lei antiga, evidentemente, é bem imperfeita; para aqueles tempos e povos antigos, porém, era uma lei santa, que trazia em si os germes de um pleno aperfeiçoamento. Era uma instituição religiosa preparatória para um regulamento definitivo, que devia ser trazido pelo Messias, por Cristo. S.Paulo, com razão (Gál 3:24), comparou a lei mosaica ao pedagogo, que conduz os discípulos à escala do Mestre, de Cristo. As próprias falhas do Antigo Testamento levavam a desejar o Senhor e Salvador, cujo advento fora anunciado pelos profetas.

Observa-se, pois, um progresso vital do Antigo ao Novo Testamento, como do embrião que se desenvolve num organismo perfeito. Deste caráter do Antigo Testamento e desta sua relação com o Novo, deriva uma conseqüência importante para a sua correta interpretação, pois as suas instituições deviam ter alguma semelhança com as do Novo; eram as suas imagens antecipadas. Analogamente quanto aos fatos históricos e às pessoas desse "drama" divino, que no Novo Testamento recebem a sua conclusão. Os apóstolos e o próprio Jesus (Mt 12:40; Jo 3:14, 6:32) indicaram-nos algumas dessas imagens antecipadas que, a exemplo de S.Paulo, costumam chamar-se tipos ou figuras; o objeto por elas vislumbrado chama-se antítipo ou figurado. Daí se segue que no Antigo Testamento, além do sentido das palavras chamado verbal ou literal, há que reconhecer um sentido das coisas, chamado real ou típico, e às vezes menos felizmente, místico e alegórico. Entre estas duas categorias de sentido há conexão, mas ao mesmo tempo grande diferença. O sentido literal (que pode ser próprio ou impróprio, isto é, metafórico) não pode faltar em nenhum dito da Escritura e acha-se freqüentemente sem o típico, do qual é fundamento necessário. O típico, ao invés, jamais pode disjungir-se do literal e não existe em toda parte, mas tão-somente onde há verdadeira semelhança e relação com algo de análogo no Novo Testamento.

A autêntica originalidade do Antigo Testamento consiste na sua doutrina religiosa e moral, cujo centro ocupa-o a idéia do monoteísmo. Na expressão artística do pensamento, porém, não difere muito dos produtos das línguas e literaturas irmãs, em particular da acádica e da fenícia (ugarítica). A língua hebraica, bastante parca de conjunções subordinativas, costuma exprimir-se em proposições breves coordenadas com a simples aditiva: e... e... Resulta daí certa dureza e monotonia, sobretudo na parte narrativa, que as versões modernas devem atenuar, ligando e construindo à nossa maneira usual.

O estilo hebraico é imaginoso e concreto; exprime-se com metáforas ousadas e imagens exuberantes, apresentando as coisas abstratas e espirituais com termos realistas capazes de chocar nossos costumes e gostos mais refinados. Em particular fala de Deus e de suas ações em termos de atividade humana: mãos, olhos, ouvidos (antropomorfismo), ficar, sentido, comover-se, arrepender-se (antropopatismos), e semelhantes. Que o leitor não se admire disso, nem se deixe levar a erro. Sob a aparência muitas vezes áspera, oculta-se sempre um pensamento nobre e puro.


O cânon

Sem pretender expor aqui toda a complicada questão da lista dos Livros que no decorrer de quinze séculos foram sendo inspirados por Deus, restringimo-nos a menciona-los de acordo com a divisão comumente aceita atualmente nos exemplares da Bíblia editados conforme a Vulgata latina:

Antigo Testamento

Novo Testamento

Livros Historicos:

O Pentateuco ou a obra de Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juizes, Rute, Samuel I e II, Paralipômenos ou Crônicas I e II, Reis I e II, Esdras Neemias, Tobias, Judite, Ester, Macabeus I e II.

Livros Historicos:

Os Evangelhos: São Mateus, São Marcos, São Lucas, São João, Atos dos apóstolos.

Livros Sapienciais ou Epistolares:

Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico.

Livros Sapienciais ou Epistolares:

Epistolas aos Romanos, Coríntios I e II, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses Tessalonissenses I e II, Timóteo I e II, Tito, Filemon, Hebreus; Epistolas de São Tiago, São Pedro I e II, São Judas, São João I, II e III.

Livros Proféticos:

Isaias, Jeremias, Lamentações, Baruque, Ezequiel, Daniel.

Os doze profetas menores: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias., Naum, Abacuque, Safonias., Ageu, Zacarias e Malaquias.

Livros Proféticos:

O Apocalipse.

Essa lista dos Livros inspirados é a que se acha na tradução grega dos LXX (Septuaginta) e que foi adotada pela Igreja desde os primeiros séculos. Foi essa Bíblia grega a que os Apóstolos citaram e espalharam como contendo a palavra de Deus. Entretanto os judeus na Palestina não adotavam todos esses Livros como inspirados. Na sua lista não figuravam os Livros de Tobias e Judite, os dois Livros de Macabeus, os Livros da Sabedoria e Eclesiástico, bem como o Livro de Baruque, mais alguns poucos trechos dos livros de Ester e de Daniel.

Ainda hoje os judeus em suas Bíblias hebraicas não lêem esses Livros, nem temem conta de inspirados. Baseando-se nesse cânon hebraico, os protestantes também não os inserem nas suas edições da Bíblia.


O Pentateuco

O primeiro lugar de ordem e de honra entre os livros do Antigo Testamento ocupa-o aquele que os, gregos chamaram Pentateuco, isto é, obra em cinco tomos. Para os hebreus é a "tora," ou seja, a lei, nome tomado da matéria central. Também os hebreus o dividiram nos mesmos cinco livros que os gregos, distinguindo-os com a palavra inicial. Nós usamos exclusivamente os nomes impostos pelos gregos, que de maneira graciosa lhes caracterizaram o conteúdo: Gênesis, Exodo, Levítico, Números, Deuteronômio. De fato, o Gênesis narra as origens do universo e do gênero humano até à formação paulatina do povo de Israel na sua estada no Egito. O Exodo narra a saída dos israelitas do Egito, conduzidos por Moisés aos pés do Sinai, para aí receberem de Deus a sua lei religiosa e civil e se constituírem, por meio de um pacto sagrado ("testamento"), em peculiar "povo de Deus (Javé)." O Levítico regula o culto religioso à maneira de ritual, dirigido especialmente aos levitas, que formavam o clero consagrado ao serviço do santuário. Os Números recebem o nome dos recenseamentos do povo contidos na primeira parte, estendendo-se, depois, em referir fatos e providências legislativas correspondentes a cerca de quarenta anos de vida nômade no deserto da península sinaítica. No Deuteronômio, ou segunda lei, emanada pelo fim da jornada no deserto, Moisés retoma a legislação precedente para adaptá-la às novas condições de vida sedentária, em que o povo viria a se encontrar com a conquista iminente da Palestina.

Neste rápido apanhado aparece num só lance tanto a unidade como a variedade do Pentateuco, bem como a sua importância fundamental para a religião antiga e para a história especial do povo hebreu.

Quem é o autor do Pentateuco? Desde a mais remota antigüidade foi considerado seu autor o próprio Moisés, o protagonista dos últimos quatro livros. Já nos livros posteriores da Bíblia citam-se-lhe várias sentenças com a fórmula: "Está escrito na lei de Moisés" ou "no livro de Moisés," ou "no volume da lei de Moisés." Assim, para não falar do livro de Josué, que é a continuação imediata e como que o complemento do Pentateuco (Jos 8:31, 23:6, em 1Rs 2:3; 2Rs 14:6; 2 Crôn 23:18; 25:4, 35:12; Esdr 3:2, 6:18; Ne 8:1, 10:3,; 13:1; Bar 2:2; Dan 9:11 etc.). Os Evangelhos nos apresentam a convicção de que Moisés é autor da lei, difundida e radicada entre os judeus; o próprio Jesus, bem como os apóstolos admitem-na e a confirmam (veja Mt 8:4; Mc 12:26; Lc 20:37; Jo 5:46; At 3:32, 15:21; Rom 10:5 etc.). Entre as testemunhas eloqüentes da fé judaica figuram Fílon, José Flávio e com maior crédito e ressonância o Talmud (tratado Baba batra, f. 14,15); entre os cristãos, os Padres da Igreja são unânimes em reconhecer Moisés autor do Pentateuco.

Não contraria essa atribuição o fato de que de Moisés se fale sempre em terceira pessoa; Xenofonte e Júlio César (para falar só em nomes célebres),fizeram o mesmo. Nem suscita a menor dificuldade a grande antigüidade de Moisés (cerca do século XIV a.C.), pois agora sabemos por documentos originais recentemente descobertos, que naquela época, não só a escrita já era conhecida desde séculos, mas até o próprio alfabeto fenício-hebraico já fora inventado.


Gênesis

O Gênesis narra as primeiras origens do mundo, do gênero humano, do povo hebreu, tudo relacionado com Deus, com sua revelação, com seu culto. Deus cria o universo, revela-se aos primeiros homens, Deus escolhe uma família (Abraão e sua descendência), para no seio dela conservar e desenvolver os germes da primitiva revelação e a verdadeira religião, no intuito de preparar a solene revelação do Sinai, narrada no Exodo.

A criação do céu e da terra (1:1-2:3), é como que o prólogo do grandioso drama, que se divide em duas partes, e tem por protagonistas os cinco grandes patriarcas: Adão e Noé, patriarcas do gênero humano; Abraão, Isaac e Jacó, patriarcas do povo hebreu.

O todo é enquadrado pelo autor sagrado em dez tábuas genealógicas (2:4, 5:1, 6:9, 10:1, 11:10, 11:27, 25:12, 25:19, 36:1, 37:2) dispostas de tal modo que, após ter registrado os ramos secundários da propagação humana, volta a narrar difusamente os destinos do ramo patriarcal, isto é, da descendência eleita, portadora da revelação divina e da verdadeira religião.

O Gênesis abrange na sua narração uma longa série de séculos, e colocando (no tronco principal das suas genealogias) ao lado dos nomes também números de anos, forneceria os elementos de uma cronologia. Infelizmente as cifras não parecem bem conservadas, porque nos números dos capítulos 5 e 11 os três textos independentes: o hebraico, o samaritano e o grego divergem entre si. Baseando-se sobre o seu texto, os gregos do império bizantino colocavam a criação do homem 5508 anos a.C. Os hebreus ainda usam uma era que no mesmo período conta 3760 anos. As ciência antropológicas exigem um tempo assaz maior para a existência do homem sobre a terra. A Bíblia não é contrária a resultados certos de tais ciências, também porque as listas genealógicas do Gênesis poderiam ser incompletas, ou seja, com omissões de elos intermediários.

Do nascimento de Abraão à descida dos israelitas ao Egito - 290 anos (Gên 21:5 + 25:26 + 47:28), a cronologia respectiva é mais ou menos certa. Para a cronologia absoluta ter-se-ia um ponto fixo no sincronismo de Abraão com Hamurabi, o célebre rei da Babilônia, cujo famoso código de leis foi descoberto em 1902. A identificação, porém, de Amrafel, rei de Senaar (Gên 14:1), com Hamurabi da Babilônia, é hoje mais do que duvidosa; tampouco a data do reinado deste último está definitivamente fixada; atualmente tende-se a colocar-lhe o início por volta de 1728 a.C. Tomando como ponto de partida a data em que os israelitas saíram do Egito sob o faraó Menefta pelo ano de 1200 a.C., e remontando o curso dos séculos com os dados da própria Bíblia (Ex 12:40 e passagens acima citadas), Abraão teria nascido por volta de 1900 a.C., mas não é certo qual seja o faraó do Êxodo.


Êxodo

O segundo livro do Pentateuco toma o nome de Êxodo da saída dos hebreus do Egito, onde, depois dos bons tempos de José, passaram a sofrer a mais dura escravidão. Esse acontecimento, porém, nada mais foi do que o prelúdio de fatos muito mais importantes na vida dos filhos de Israel, os quais, de um conglomerado de famílias que eram, recuperando a liberdade, conquistaram verdadeira unidade de nação independente e receberam uma legislação especial, uma forma de vida moral e religiosa, pelas quais se distinguiram de todos os outros povos da terra.

Com toda facilidade compreender-se-á a importância deste livro, sobretudo em se pensando que, se a história civil das nações, mormente as antigas, acha-se intimamente vinculada à religião e essa à moral, isto jamais foi tão verídico como a respeito dos hebreus. As leis contidas no Êxodo formam a essência da vida civil e religiosa do povo eleito.

Pelas razões citadas, os acontecimentos narrados no Êxodo tiveram um eco enorme na memória das tribos israelitas. Em quase todas as páginas do Antigo Testamento são recordadas a libertação da escravidão do Egito, a prodigiosa passagem do mar Vermelho, os golpes tremendos com os quais foi dominada a tenaz oposição do opressor egípcio, as grandiosas manifestações divinas no Sinai, o sustento milagroso de povo tão numeroso no deserto. Daí Israel deduzia os motivos mais fortes para ser grato e fiel a Deus,, e conservar uma confiança inabalável na sua providência soberana e nos seus próprios destinos.

A cronologia do Êxodo, ou seja, o ano em que os hebreus saíram do Egito, está naturalmente ligada à história desse país. Mas, já que a Bíblia não fornece os nomes dos dois faraós, o da opressão (1:8, 2:23) e o da saída (14:5), duas opiniões diversas se equilibraram entre os doutos, com autoridade e número de defensores quase iguais. Para uns, o opressor seria Totmés 3 (1500-1450) e o outro Amênofis 2 (1447-1420), da XVIII dinastia; para outros, no entanto, Ramsés II (1292-1225), da XIX dinastia, teria oprimido ns hebreus, e seu sucessor, Menefta (1225-1215); tê-los-ia libertado. A segunda opinião, que estabelece o século XIII a.C. para o Êxodo, parece-nos mais condizente com o texto (1:11) e mais coerente com outros dados da história sagrada e profana.


Levitico

Este livro traz o nome de Levítico, por tratar quase exclusivamente dos deveres sacerdotais. Poder-se-ia compará-lo a um ritual.

Com exceção de dois trechos históricos (8:10, 24:10-23), compõe-se inteiramente de leis que visam à santificação individual e nacional. Santificação, de per si ritual e exterior, que, porém, simboliza e promove certa santidade interior e moral. Toda a matéria pode ser dividida em cinco partes:

  1. a) Leis relativas aos sacrifícios (1:7). Os sacrifícios são de cinco espécies; duas séries de leis: l" série - o rito de cada sacrifício (1:5), holocausto (1), oblação de vegetais (2), sacrifício salutar (3), sacrifício expiatório (4), sacrifício de reparação (5). 2° série -ireitos e deveres dos sacerdotes em cada espécie de sacrifícios (6-7).

  2. a) Consagração dos sacerdotes (8:9). Nadab e Abiú são punidos por terem usurpado um ofício sagrado (10:1-7). Várias prescrições para os sacerdotes (10:8-20).

  3. a) Leis sobre a pureza legal (11:16) dos alimentos (11), da puérpera (12), da lepra nas pessoas (13:1-46, 14:1-32), nas vestes (13:47-59) e casas (14:33-57); sobre a gonorréia (15). Rito para o dia solene de expiação (16).

  4. a) Leis sobre a santidade (17:23): a) do povo (17:20); matança dos animais, uso do sangue, unicidade do santuário (17); prescrições que regulam os atos sexuais (18); várias prescrições religiosas e morais (19); punição para os transgressores (20); b) dos sacerdotes: núpcias e luto (21:1-15); irregularidades (21:16-24); impureza cerimonial (22:1-16); qualidades das vítimas (22:17-30); conclusão (22:31-33); c) dos dias festivos: solenidades anuais e o sábado (23).

  5. a) Determinações diversas: lâmpadas no santuário e pães da apresentação (24:1-9); pena para o blasfemador (24:10-23); prescrições para o ano sabático e jubileu (25); promessas e ameaças relativas a observância da lei (26); votos e dízimos (27).

Devemos observar ainda, que todas essas leis cerimoniais foram elaboradas depois de Jesus Cristo. Entretanto, os sacrifícios da antiga lei haviam prefigurado o seu sublime sacrifício na cruz, no qual, único e perfeito sacrifício, teve cumprimento toda a variedade dos sacrifícios do Antigo Testamento. Ou melhor, como nos ensina S. Paulo (Hebr 9:9, 10:10), os sacrifícios levíticos recebiam sua principal eficácia de aplacar a Deus daquele valor figurativo, pois que "é impossível que, por si só, o sangue dos touros e dos cabritos cancele os pecados" (Hebr 10:4). Considerados nó seu significado típico e simbólico, os ritos escritos no Levítico continuam e continuarão a ser instrutivos.


Números

O quarto livro do Pentateuco recebeu o nome de Números (em grego Arithmoi, que aqui tem o sentido de "recenseamentos") por causa dos "recenseamentos" (1:1-4:26), que são próprios deste livro e que lhe dão a sua feição particular. Contém, além disso, alguns fatos que se ligam imediatamente aos acontecimentos narrados no Éxodo, e leis semelhantes às do Levítico. Pode ser dividido facilmente, de acordo com os lugares e tempos, em três partes: no Sinai (1:1-10:10); viagens através do deserto (10:11-21:35); na margem oriental do Jordão (22:36).

  • 1a parte. No Sinai: disposições para a partida: 20 dias. Recenseamento das tribos e respectivas posições no acampamento (1:2). Os levitas: seu destino e recenseamento; divisão por famílias e por ofícios. Leis: banimento dos impuros, restituições, ciúmes, nazireato, bênção litúrgica. Últimos fatos: donativos dos chefes das tribos ao santuário, consagração dos levitas, segunda Páscoa (9:1-14), sinais para a partida e para a parada, as trombetas (9:15-10:10).

  • 2a parte. Viagem através do deserto: Do Sinai a Cades: partida e ordem de marcha (10:11-36), murmuração do povo, as codornizes, a lepra de Maria, irmã de Moisés. Parada em Cades: missão dos doze exploradores e queixas do povo; leis sobre as oblações e primícias, sobre o sábado e os filactérios; sedição de Coré, Datan e Abirão, e sua punição e confirmação do sacerdócio na família de Arão; relações entre sacerdotes e levitas, emolumentos de uns e de outros; a água lustral; sedição do povo por falta de água (20:1-13). De Cades ao Jordão: os edomitas negam passagem pelas suas terras; morte de Arãò (20:14-29); queixas do povo e castigo, a serpente de bronze (21:1-9); vitória sobre os amorreus e conquista de Basan (21:10-35).

  • 3a parte. Na margem oriental do Jordão: cerca de cinco meses. A matéria desta parte, mais por ordem lógica do que por ordem do texto, pode ser assim agrupada: últimos encontros com os povos da Transjordânia; Balaão e seus vaticínios (22:24); prostituição a Beelfegor (25); guerra santa contra os madianitas e leis sobre a divisão dos despojos (31); lista das etapas (33). Grupo de leis: herança (27:1-11), festas e sacrifícios (28:29), votos (30). Disposições para a ocupação da terra prometida. Segundo recenseamento (26); nomeação de Josué (27:12-23). Distribuição da Transjordânia (32); normas para a ocupação e distribuição da Cisjordânia (33:50-34:12); designação das cidades levíticas e de refúgio (35); disposições para manter inalterada a primitiva distribuição (36).

A julgar pelo resumo, o presente livro compreende um período de cerca de trinta e oito anos e meio. Sobre a maior parte desse período (os trinta e oito anos no deserto) narra-nos apenas uns poucos fatos, mas muito notáveis pelo significado religioso, como a serpente de bronze, a sedição de Coré, os vaticínios de Balaão, a.água brotada da rocha; fatos dos quais os apóstolos no Novo Testamento tiraram utilíssimas lições (1Cor 10:1-11; Hebr 3:12-19; Jo 3:14-15). No centro do drama acham-se dois fatos semelhantes entre si, duas sedições do povo contra Moisés, executor das ordens divinas; a primeira (14), originada pela repugnância em empreender a conquista da Palestina; a segunda (20), por falta de água. Conseqüência ou punição da primeira foi a longa demora da nação inteira no deserto da península sinaítica; a segunda deixou a mais profunda impressão na consciência nacional e na literatura posterior (cf. SI 80:94-105), envolvendo o próprio Moisés, que por um instante duvidou da clemência divina e por isso teve de deixar a outros o remate de sua obra, a conquista de Canaã (cf. Dt 32).

O livro dos Números é importante para a literatura porque, entre outras coisas, nos conservou fragmentos de antiquíssimos cânticos populares (21:23-24), com a indicação de coleções - já existentes, como "o Livro das guerras de javé" (21:14), do qual não se tem outra menção.


Deuteronômio

O quinto e último livro do Pentateuco foi chamado Deuteronômio, isto é, "segunda lei". O livro não é uma simples repetição da legislação contida nos livros precedentes, mas além de leis novas, oferece complementos, esclarecimentos e modificações às primeiras. É, de certo modo, uma segunda lei, promulgada no fim da longa peregrinação dos israelitas, paralela á lei dada no Sinai e destinada a regular mais de perto a vida do povo escolhido, no solo da Terra Prometida à qual eles estavam para chegar e dela tomar posse definitiva. Não é, porém, simples enumeração de leis e determinações; o que caracteriza esse livro, o que lhe constitui a alma, é um ardente sabor oratório. O hagiógrafo nos faz ouvir um Moisés que exorta, encoraja, invectiva; inculca á observância das leis, a começar dos grandes princípios morais; apela para os mais poderosos motivos, evoca a glória do passado, a missão histórica de Israel, os triunfos do porvir. Na mente do autor sagrado temos o testamento definitivo, que o grande guia e legislador deixa ao povo de Deus às vésperas da sua morte. Pelo estilo, o Deuteronômio é um discurso, ou melhor, vários discursos, dirigidos por Moisés aos israelitas. Deduz-se daí a divisão do livro em quatro partes:

  • 1a parte: 1° discurso (1:4): olhar retrospectivo aos fatos acontecidos desde a partida do Horeb até às últimas conquistas da Transjordânia; exortação geral à observância da lei (4:1-40).

  • 2a parte: 2° discurso: renovação da lei (4:44-26:19). Princípios gerais: o Decálogo (5), o culto e o amor ao único Deus verdadeiro (6), guerra à idolatria (7), benefícios de Deus, censura da infidelidade anterior de Israel, promessas e ameaças (8:11).

Leis especiais: Deveres religiosos. Unicidade do santuário e disposições relativas (12:1-28); contra a apostasia (12:29-13:18); alimentos e dízimos (14); ano da remissão (15); as três grandes solenidades anuais (16:1-17).

Direito público. Juizes (16:18-17:13), rei (17:14-20), sacerdotes (18:1-8),.profetas (18:9-22); homicídio involuntário (19), guerra (20), homicídio por mão desconhecida (21:1-9). 3) Direito familiar e privado. Grande variedade; os pontos principais são: matrimônio (21:10-14, 22:13-23,) e filhos (21:15-20), o divórcio (20:1-4), levirato (25:5-10), deveres de humanidade (22:1-12, 23:16-20, 24:6-25, honestidade (25:11-19), votos (23:22-24), primícias e dízimos (26).

  • 3a parte: 3° e 4° discursos: ordem de promulgar a lei em Siquém, maldições para os transgressores (27), ameaças e promessas (28). Exortação à observância da lei, com a recordação dos fatos históricos, das promessas e das ameaças (29:30).

  • 4a parte. Apêndice histórico. últimas disposições de Moisés, nomeação de Josué, seu sucessor (31); cântico de Moisés (32), bênção das doze tribos (33), morte de Moisés (34).

Amor de Deus, beneficência, alegria no cumprimento do dever, eis as principais características do Deuteronômio, princípios inculcados e repetidos com solicitude incansável. Por isso, perpassa-o um sopro ardente de sincera e profunda piedade para com Deus e uma ternura simpática pelo homem, que edifica e comove. Há páginas que se aproximam da sublimidade divina dos ensinamentos evangélicos, mais do que quaisquer outras.


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